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O Gato-do-mato

A casa do meu pai fica em Ribeirão Pires, no abc paulista, a 35 km do centro de São Paulo. É uma casa com um espaço externo muito massa, com piscina e churrasqueira. Depois da morte da minha mãe, e da morte da esposa do meu avô, pai dele, meu pai decidiu ir morar com meu avô, que já tinha mais de 80 anos na época, e a casa então vazia, passou a funcionar como renda extra através do aluguel pra festas e eventos.


No início de outubro do ano passado, meu pai precisava receber alguém na casa e não podia ir. Eu me ofereci e fui em seu lugar. Fui cedo, cheguei na casa ainda de manhã. Ao passar pelo portão, vi ter um cão no terreno, um cão intruso, que latia voraz pra uma árvore. Eu entrei na casa, abri todas as janelas e portas e voltei pra fora pra espantar o cão, que continua latindo cheio de energia. Acho que era o cachorro do vizinho, bem bonito, mas barulhento. Espantei o cachorro do vizinho e voltei pra dentro da casa.


Decidi almoçar. Então esquentei uma comida que tinha levado e me sentei a mesa da sala. Na segunda garfada ela apareceu. Uma gatinha, magríssima, suja feito uma bola de futebol esquecida por meses na rua, me olhou nos olhos, e disse “Miau”.


Paixão a primeira miada.


A gata roçava nas minhas pernas. Esqueci do almoço. Aliás, passei a pensar ser ela quem precisava comer. A gatinha era só pelo, osso e pó. Subiu no meu colo e ali ficou. Gata safada, sabia que eu não ia resistir aos seus encantos de mimos e ronrons.


Na casa, sempre vazia, não tinha nada que eu pudesse oferecer a minha nova companheira. Vi uns ovos e os cozinhei. Dei dois ovos cozidos pra coitada, que os devorou tão rápido que sua garganta fazia um barulhinho. Lembrando do cachorro nervoso, passei a achar que era pra gata que ele latia, e não pra árvore. Fez mais sentido.


Naquela noite ela já tinha nome e já dormiu comigo. Imunda e cheia de pulgas, enroscada aos meus pés na cama. No meio da madrugada ela se levantou e chorou. Achei que queria usar o banheiro. Abri a porta da cozinha e ela saiu. Fiquei de olho, ela dava uns passos pra frente, parava e olhava pra trás, como que conferindo se eu ainda estava lá. Foi até uma areia que encontrou, fez xixi e voltou correndo. Eu pensei, “Já era, me adotou!”


Qualquer um que conhece meu coração de manteiga barata sabe o fim da história. Levei a gata comigo pra casa. No caminho fomos ao veterinário. Uma vez com uma carteirinha de vacinação a mais e um carrapato a menos, passamos no pet shop. Comida, caixa de areia, pote de comida, areia, remédio pra pulgas, xampu antipulgas, um brinquedo. Estava feito.


Na época a veterinária disse que ela deveria ter entre 7 meses e 1 ano de vida, e que provavelmente não cresceria muito porque teve uma infância desnutrida. Me fez pensar em crianças. Ela tinha uns 2 kg. Hoje, mais de ano depois, já tem pouco mais de 4 kg. Ainda é uma gata pequena de bunda magra, mas bem mais gostosa que antes.


Libbi hoje me faz companhia diária, é quase como uma sombra de pelos. Ainda dorme no meu pé, mas já não chora mais pra ir fazer xixi. Acho que apesar de agora ela ser uma gata de apartamento, me parece uma gata feliz. O mesmo vale pra mim...

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